Tipos de corte no desenho.

 Representação e referenciação de cortes
A representação por projecções ortogonais em número de vistas necessárias  e suficientes da peça da





A consideração de um possível corte por forma a tornar visíveis as arestas invisíveis, consistiria em adoptar um plano designado plano de corte, nos termos apresentados na Fig. 5.2 e proceder à representação obtida depois de retirada a parte da peça entre o plano de corte e o observador.





Em termos de projecções ortogonais obtém-se a representação da Fig. 5.3.

Esta representação numa situação em que venha a ser objecto de leitura, merece os seguintes comentários:



-  As arestas visíveis que se apresentam corresponderiam à partida a arestas visíveis?     Nada  é indicado em contrário.

-  Como saber da existência do furo de menor diâmetro. A perda de informação obrigaria a uma terceira vista, solução pouco conveniente por contrariar o carácter simplificativo que a ideia de cone na representação deve assumir.





Fig. 5.3 - Interpretação da peça descrita na Fig. 5.4



Assim, uma posterior leitura das projecções ortogonais (Fig. 5.3) conduziria à interpretação descrita na Fig. 5.4. De facto muito longe do objecto de representação!

O  problema é ultrapassado mediante o estabelecimento de um critério de representação e referenciação:

Informar que as arestas visíveis resultam de um corte, é estabelecido pela adopção de tracejado na representação das faces obtidas por efeito do corte. isto é, na "zona maciça" da peça.

Informar qual o plano de corte considerado, é estabelecido pela sua referenciação na projecção ortogonal (Planta ou Alçado) em que o plano de corte se apresenta inequivocamente de frente ou de nível respectivamente.

No exemplo em análise (Fig. 5.5), o corte é referenciado em planta e representado em alçado.





Fig. 5.5 - Referenciação de plano de corte e representação do corte.



A eventual perda de informação por ausência de qualquer representação em alçado do furo de menor diâmetro, é ultrapassável, mediante uma translacção do plano de corte por forma a "contemplar" também esse furo (Fig. 5.6-a).



A representação correcta da peça em projecções ortogonais utilizando cortes (e neste caso sem qualquer apresentação de arestas invisíveis), inclui uma inequívoca referenciação do plano de corte (Fig. 5.6-b), como se referiu.

As projecções ortogonais assim apresentadas têm como única leitura possível a peça dada (Fig. 5.2), como seria de desejo.




5.2.   Representação e referenciação de secções
Associado à ideia de corte surge também um outro conceito não menos importante e de grande utilização na representação de peças em casos mais específicos.

Com efeito e nos termos da definição de cone apresentada, pode destacar-se a existência de um superfície - a superfície de corte, que cor­responde à parte maciça' da peça intersectada pelo plano de corte. Por outras palavras, trata-se da superfície correspondente à intersecção do plano de corte com a peça.

Designada por secção, esta superfície, que para a peça e plano de corte da Fig. 5.2 se apresenta na Fig. 5.7, é em geral de grande utilização em peças de tipo lineares, isto é, peças em que uma das dimensões é muito maior que as outras duas (Fig. 5.8).



 - Representação de Secções

  a) Secção de tubagem; b) Secções de uma asa de aeronave;  c) Localizações possíveis da representação de uma secção





5.3. Complementos da representação e referenciação de cortes e secções
Não obstante terem já sido considerados nas representações das Figuras que ilustram 5.1. e 5.2., interessa complementar as nomenclatura e simbologia habitualmente utilizadas na representação de peças com recurso a cortes e secções.

São de destacar as seguintes situações:



A)   Em Cortes:



1 -     Representação da superfície de corte a tracejado com inclinação variável entre 30º e 60º (Fig. 5.9) e espaçamento variável conforme as proporções adoptadas para representação da peça, mas nunca paralelo às arestas que delimitam as faces a tracejar.





Em particular pode pretender-se indicar especificamente as características materiais, isto é qual o material que constitui a peça. A superfície de corte é especialmente adequada a essa indicação, substituindo o tracejado de tipo referido por outro que convencionalmente designa o material em questão. Os tracejados adoptados (Norma NP - 167), em relação ao mate­rial utilizado são os que se indicam (Fig. 5.10).

Importa ainda notar que num Desenho Técnico esta representação nas superfícies de corte não dispensa a indicação expressa em legenda do material que constitui a peça representada. De referir ainda e por outro lado a facilidade conseguida nesta representação em termos de uniformidade ao longo de vários elementos ou desenho por utilização de "grizets" Actualmente e na elaboração de desenhos por utilização de sistemas CAD é vulgar estarem já incluídos ou poder ser facilmente constituída pelo utilizador uma biblioteca de 'padrões' destinados ao tracejado de superfície nos termos referidos.




B)    Em Secções

Os critérios referidos em A, relativamente a Cortes, quanto a tracejado, linha de referenciação e identificação do plano de seccionamento, permanecem válidos.

São de considerar ainda os critérios de localização da representação de secção, alguns dos quais já ilustrados na Fig. 5.8, que compreendem fundamentalmente os três tipos aí apresentados.



1 -   Referenciação do corte por linhas de tipo  com possibilidade de apresentar as extremidades e zonas angulosas mais espessas.

2 -   Indicação por setas do sentido do observador, isto é, sentido em Que O observador vê à peça em corte. Esta nomenclatura tem portanto implícita a indicação de qual a pane da peça retirada pois esclarece de que lado está o observador.

3 -   Quando numa mesma peça se procedeu a vários cortes por con­sideração de outros tantos planos de cone, a representação e  refe­renciação respectiva devem ser identificadas por um caracter alfanumérico .






5.4. Tipos de cortes
A variedade de situações no âmbito da representação de peças em Desenho Técnico torna por vezes hesitante a adopção dos 'melhores" critérios para representação dos cortes nos termos genericamente apresentados. Surge assim a necessidade como que de uma classificação em Tipos de Corte com vista a uma padronização na adopção dos critérios apresenta­dos, em casos específicos mas correntes.

Neste âmbito são consideradas as situações seguintes:



5.4.1.   Cortes totais
Os cortes totais são os que resultam de um atravessamento total do objecto pelo plano de corte.

O plano de corte pode ser um só, devendo sempre que possível coincidir com um plano de simetria da peça; ou ser objecto de sucessivas translacções (Fig. 5.12-a e b).





Fig. 5.12 - Cortes totais

     a)  Sem translacção; b)  Com translação do plano de corte


5.4.2. Meios cortes
Os meios cortes são frequentemente utilizados em peças simétricas. Cortam "metade" da peça podendo assim representar-se simultanea­mente numa mesma projecção o interior e o exterior da peça.

Em geral esta metodologia pressupõe uma simetria total da peça quer interior quer exteriormente (Fig. 5.13).





Fig. 5.13 - Meio corte


5.4.3. Cortes parciais
Os cortes parciais (também designados cortes locais, segundo a NP -328). são utilizados para permitir a visualização de uma parte interior da peça.

  Os cortes parciais, já utilizados na Fig. 5.11; são representados com deli­mitação da superfície de corte por uma linha irregular do tipo linha de frac­tura. Apresentam-se como que um "rasgo" na peça e utilizam-se frequentemente quando numa dada peça, os elementos a apresentar cor­respondem a uma parte de dimensões reduzidas comparadas com as dimen­sões máximas da peça (Fig. 5.14).

 De notar ainda que em termos de apresentação, importa que a linha de fractura não seja coincidente com arestas existentes, nem tão pouco ficar no prolongamento de alguma aresta.





Fig. 5.14 - Corte Parcial


5.4.4. Casos particulares estabelecidos por convenção:
Cabe aqui fazer referência a critérios de utilização de cones na repre­sentação de projecções, que não constituindo propriamente um tipo de Corte, do ponto de vista prático, assumem um carácter convencional.

É frequente e principalmente em desenho de construção mecânica, a simultaneidade de vários dos casos particulares referidos.

Interessa considerar as seguintes situações:



- Quanto à representação das superfícies de corte:



A representação das superfícies de corte, que como se referiu são preenchidas com tracejado ou elementos gráficos que caracterizem os materiais, pode ser ainda, quando se trata de zonas a preencher, como no caso de perfis metálicos, por preenchimento a preto (Fig. 5.15).




Por sua vez a representação de superfícies de corte pode dispensar qualquer tipo de preenchimento como acontece em geral nos desenhos de Arquitectura (Fig. 5.16).




-  Peças e elementos de peças que não se cortam, em peças justapostas.



Estão neste âmbito os casos de peças totalmente maciças como veios porcas, rebites, parafusos e outros elementos de ligação de conjuntos de peças.

Com efeito a representação de peças deste tipo em corte, em nada con­tribuiria do ponto de vista de informação, pelo que mesmo quando integra­dos em outras peças, a ausência de corte facilita melhor a leitura do conjunto do que se houvesse corte (Fig. 5.17).

No caso de peças constituídas por diversos elementos (outras peças) jus­tapostas, a representação em corte deve evidenciar esse aspecto.

Para o efeito utilizam-se diferentes sentidos de orientação do tracejado que preenche as superfícies de corte (Fig. 5.17-b). Em geral esta situação envolve a representação de peças que de acordo com o critério anterior não se cortem.





Fig. 5.17 - Elementos de peças incluídos num corte, que não se cortam:

a) Cortes em peças justapostas; b) Elementos de peças, incluídos num corte, que não se cortam; c)  Cortes em peças justapostas incluindo peças que não se cortam



-   Cortes com simetria radial



Nos cortes em peças com simetria radial (Fig. 5.18), situação frequente nos domínios da Engenharia Mecânica e do Design Industrial é usual proceder-se como que a uma simulação do plano de corte.

Com efeito, nas situações em que o critério de estabelecimento dos pla­nos de corte conduziria de acordo com o procedimento das projecções orto­gonais a uma representação da superfície de corte não em verdadeira grandeza, adopta-se a representação da superfície de corte (resultante do plano de corte considerado) em verdadeira grande e mediante um rebatimento como se esse fosse à partida o resultado em projecção ortogonal.

Trata-se afinal de simular uma reconfiguração da peça, isto é uma repre­sentação da zona de peça intersectada pelo plano de corte, como se este se apresentasse paralelo ao plano de projecção e como tal permitindo obter em verdadeira grandeza a superfície de corte.





Fig. 5.18 - Representação de peça com simetria radial



- Corte e Planificação das secções correspondentes



Em algumas situações, a adopção de um plano de corte sujeito a transacções sucessivas ou a adopção de vários planos de corte conduzem ter­mos de representação dos respectivos cortes a que algumas das superfícies não se apresentam em verdadeira grandeza.

Neste âmbito podem considerar-se dois casos:



-  Recorrer à representação de vistas adicionais paralelas aos planos de corte, para além das inicialmente adoptadas em termos de vistas necessárias e suficientes e que não determinariam secções em ver­dadeira grandeza, conforme já referido;

-  Recorrer a uma planificação das várias secções resultantes dos planos de corte considerados por forma a ficarem como que integradas numa mesma vista adicional, conforme se ilustra na.




5.5.  Cortes em perspectiva
Na representação de Cortes em Perspectiva é igualmente adoptado o con­ceito de corte nos termos definidos , pelo Que de modo semelhante se considera a supressão da parte da peça entre o observador e o(s) plano(s) de corte considerado(s). Em termos de representação interessa obviamente ter em conta as direcções axonométricas da perspectiva em questão.

Várias figuras apresentadas, ilustram implicitamente a representação de cortes em perspectiva.

A representação de cortes em perspectiva, como aliás a própria representação em perspectiva, é pouco frequente pelas razões oportunamente invocadas, podendo no entanto ser útil (neste caso explicitando elementos do interior das peças) nos mesmos termos em que a representação em perspectiva o é: facilidade de explanação e visualização de uma ideia quanto a concepção de uma forma, em especial perante situações envolvendo pessoas ou entidades menos ligadas à linguagem do Desenho Técnico mas de cujo parecer pode depender a prevalência de uma determinada opção.

A Fig. 5.20 apresenta exemplos de peças em perspectiva envolvendo a adopção de cortes.

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